Qualquer que seja o tempo o E. desloca-se todos os dias da semana no seu cavalo metálico movido a pedais, como gosta de lhe chamar. Aos amigos explica que é bom rapaz mas que se sente mau quando monta a sua BADBOY, badboy é a marca da bicla, ou seja no nome já tem associado um perigo eminente!
Com esta bicicleta urbana de 3 velocidades vai a todo o lado, qualquer que seja o declive. As ruas da cidade são o seu ginásio e também os carris do seu veículo metálico.
Sabe que na cidade os automobilistas andam muito atentos, com exceção dos dias de chuva... aí a visibilidade é má e então descuidam-se mais, talvez o cinzento deprima os alfacinhas e visitantes!
Para o nosso amigo os automóveis nunca foram inimigos ou predadores, e muito menos os condutores profissionais com quem compartilha as ruas de Lisboa. Falamos de taxistas e condutores de autocarro.
Sempre que faz um atropelo aos códigos da estrada vemo-lo hesitar e verificar se está a ser visto por algum desses condutores profissionais. Porque sabe que apesar de sempre o respeitarem quando se desloca, a ele ou a outro qualquer ciclista, também sabe que são os mais acérrimos defensores desses códigos e os mais críticos de quaisquer infrações.
Ou seja, se é para passar um vermelho convêm certificar-mo-nos que não vem nenhum carro, mas também é bom verificar se por perto não pára um taxista (os condutores de Laranjas e Amarelos nisto são mais compreensivos), e claro um ou vários agentes da autoridade. :)
E.pedalava forte mas com prudência e estava sempre concentrado, apesar de se descontrair à medida que fazia km e mais km na cidade. Sabia que por andar muito adquiria uma confiança que ofuscava a necessária prudência e atenção.
O bater do sol nas fachadas dos edifícios da avenida do Brasil dava-lhe a sugestão de inquieta e acentuada profundidade, e a mistura de verdes, ocres, pasteis e algum céu por traz da Cidade Universitária, lembrava um quadro irrealista de Botelho…
Já vinha da Expo e antes tinha deixado a Baixa, desejando seguir para Benfica. Ia apanhar a via ciclável do Campo Grande.
Àquela hora de um Sábado de Agosto a cidade estava tranquila.
Ao primeiro cruzamento, não vindo nenhuma daquelas habitações móveis - os T5 de pouco mais de 9 m2 a que que convencionamos chamar automóveis - resolveu virar à direita e contornar todo o Campo Grande por fora, de modo a variar aquele percurso.
Abrandou para observar a soberba intensidade de verdes que o jardim do Campo Grande oferece.
Reparou que que ia na faixa do meio e olhou para traz a verificar se vinha algum T5 móvel antes de ir para a direita... Como não vinha decidiu passar para a faixa da direita….
Forte travagem seguida de BERROS E MAIS BERROS
" DEPOIS SE MATARMOS UM CICLISTA AINDA NOS CULPAM!!
NEM TEM SEGURO NEM CARTA NEM SABEM AS REGRAS!! "
O construtor civil que acelerava loucamente numa carrinha de caixa aberta berrava porque se assustou.
Tinha entrado naquele momento na via e como o João ia lento na faixa do meio resolveu passa-lo pela direita… só que este olhou para trás rodando a cabeça pela esquerda e o condutor entrou na avenida de 3 faixas vindo de uma obra pela direita… dá para entender?
Direita esquerda, esquerda direita…
E tudo isto para dizer…
É perigoso andar devagar junto com os carros.
E também é perigoso andar depressa na via ciclável (outro dia, outra história!)
É perigoso mudar de sentido e não assinalar em gesto com o braço.
É perigoso andar quando não há muito transito.
É perigoso baixar a guarda, ou seja, perder a concentração e relaxar na prudência!
É perigoso andar em estradas que tenham 3 faixas de rodagem mesmo que sejam só de um sentido
Tudo isto é perigoso. É mesmo acreditem….
Um acidente é o resultado do somatório de pequenas imponderabilidades que se associam de um modo imprevisível.
Escrevi ISTO para mim e claro para PARTILHAR :)
Eliseu 2011 ( cinco anos depois roubaram me a bicicleta que me escrevia estes textos )
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