AS RUGAS DA CODADE

Há já alguns anos que ando a observar a destruição obsessiva de algum património natural nas periferias urbanas. Não as vou enumerar para não me tornar fastidioso. Vou só recordar e chamar a atenção para um dos mais importantes e a que quase não damos atenção. Refiro-me às vias mais antigas, para além das estradas Nacionais e Regionais, as chamadas estradas Militares e Azinhagas. Como já numa crónica anterior referi, comecei a “bicicletar” fazendo BTT, (ai ai, não têm lido as crónicas!) e então como nem sempre tinha tempo para procurar as fantásticas montanhas de Portugal, procurava os caminhos de terra periféricos à cidade. As toneladas de entulho, frigoríficos, camas, colchões que encontrava foram a minha primeira surpresa, depois tive ataques de irritabilidade que raiava a loucura sempre que um vernáculo caminho era abruptamente cortado por uma auto-estrada, IC15, IC16, IC176…. Dói vermos caminhos antigos, dos quais nos apercebemos da sua dignidade e dos vestígios do passado, serem enjeitados, atropelados, “desestruturados”, aplanados, e até completamente excluídos das propostas actuais de intervenção urbana. Sabemos e sentimos que em tempos houve centenas, milhares de pessoas que por ali deambularam e viveram circulando. Construir uma estrada em cima, decepando, interrompendo-os com outras funções por parecer mais importante, é um grande atentado ao património e à memória. Não vos parece? Solução: construir ao lado e olhar, compreender e respeitar o mais idoso, até que porque sabemos que há VARIAS VELOCIDADES e TEMPOS e MODOS de percurso. Perguntem a alguém que por ali viveu muitos anos, um saloio, um aguadeiro, um afiador de tesouras, um engenheiro, ou até um pastor, se algumas daquelas pedras que desprezamos, a curva apertada ou vala, não têm um nome ou significado? Claro que vão até ouvir uma história. Ainda hoje me arrepio ao recordar-me, após uma curva vindo de uma longa subida, encontrar um mar de pedrinhas, eram pequenos montinhos de pedra que pareciam infinitos. Senti uma energia incalculável. Não me recordo agora em que parte estava do Caminho de Santiago Francês. Desci da bicicleta. Descobrir um pedra solta foi difícil e claro equilibrei-a no montinho mais próximo… e pensei, Deus fez a natureza, o homem modifica-a com respeito e inteligência, dignificando-a cada vez mais. Não sentem isso quando olham para um bom projecto de arquitectura?
Com criatividade a vida fica mais fácil de





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