Arquitectura enterrada

Arquitectura muito útil para zonas de parques e reserva naturais ...











MORADIA UNIFAMILIAR BIO-CLIMÁTICA - “TOCA DO URSO”Memória Descritiva A – TEMA Moradia uni-familiar direccionada ao segmento de mercado médio-alto, de formalismo contemporâneo, tipologia T3, a edificar num lote de terreno com vista de mar ou rio, que traduza inovação, arrojo, audácia, tendo como linhas orientadoras a utilização de energias renováveis, o uso de sistemas bio climáticos e de sustentabilidade e uma boa relação entre as tecnologias aplicadas e o custo da obra. B – LOCALIZAÇÃO O sitio é em Admoço no concelho de Oleiros perto de Castelo Branco A aldeia de Admoço, pertence à freguesia de Cambas e situa-se na margem direita do Rio Zêzere. Existe nesta aldeia um pequeno areal que é aproveitado no verão como praia. O terreno nesta região é rico em Xisto São 24 as Aldeias do Xisto distribuídas pela Região Centro, num território de enorme beleza que oferece experiências únicas. Encante-se com estas 24 aldeias tradicionais, escondidas entre serras de vegetação frondosa e as suas casas feitas de xisto, a rocha mais abundante na região. As várias tonalidades desta pedra, também usada nos pavimentos das ruas estreitas e sinuosas, misturam-se de forma perfeita nas cores da paisagem natural. Xisto Xisto é o nome genérico de vários tipos de rochas metamórficas facilmente identificáveis por serem fortemente laminadas. Em linguagem popular, em Portugal é também conhecida por "lousa" (e, por extensão, designa-se como "terra lousinha" aos solos com base xistosa). A argila metamorfizada, devido ao aumento de pressão e temperatura (metamorfismo), torna-se primeiro um folhelho e em seguida, ao continuar o metamorfismo, passa a ardósia, que vira filito, que finalmente passa a xisto. Ou seja, a sequência de formação é argila - folhelho - ardósia - xisto – gnaisse. O xisto e a arquitectura A arquitectura das aldeias serranas tem como principal elemento o xisto, predominante na geologia da serra. Na construção das casas é ligado por argamassas de argila ou simplesmente apoiado por sobreposição, sendo esta última técnica frequente no caso dos currais, espaços para guarda de animais. Para a estrutura das coberturas é utilizada madeira de castanho e pinho revestida depois com colmo e lagetas de xisto, mais recentemente com telha de canudo. As portas, janelas e soalhos do piso superior são igualmente construídos em madeira. Este piso era amplo e escuro, com bancos compridos e uma lareira cujo calor era aproveitado para secar a castanha disposta num tecto falso de ripas de madeira – o “caniço”. Geralmente as construções estão intimamente ligadas ao acidentado do terreno que lhes serve de suporte, apresentando um ou dois pisos e muitas vezes sobrepondo-se entre si. Criam-se assim formas irregulares que lhe conferem uma imagem singular pela sua diversidade e riqueza. Era costume encontrar à porta das casas entre uma e três pedras em bico que serviam para afastar o mal. C - PRINCÍPIOS DE INTERVENÇÃO “The more our world looks and functions like the natural world, the more likely we are to endure on this home that is ours, but not ours alone” O projecto assenta na Biomimicria, sendo o reflexo da análise e reunião de elementos inspirados no mundo natural, com especial ênfase em dois tipos de habitat: - a cova do urso (para o isolamento térmico) - o formigueiro das térmitas (para a ventilação) A emulação da forma e processos presentes nestes habitats naturais, na criação de uma arquitectura mais humana e sustentável, constituiu a espinha dorsal deste projecto. Paralelamente procurámos alargar o conceito da sustentabilidade introduzindo outros princípios, que temos como incontornáveis: o da multifuncionalidade e flexibilidade espacial, estrutural e construtiva e o da casa lúdica e sem necessidade de empregada. 1 – A toca do urso “Habiter la Terre et dans la terre, c’est d’abord habiter” Vários animais homeotérmicos como o musaranho (Soricidae), o ouriço (Erinaceidae), o noitibó-de-nuttall (Phalaenoptilus nuttallii) ou o urso-pardo (Ursus arctos), durante a hibernação ou a estivação, procuram uma gruta ou cavam uma toca no solo, onde a temperatura não tenha grandes amplitudes térmicas e onde os níveis de humidade sejam constantes e pouco acentuados. À semelhança do mundo animal, desde tempos ancestrais, que o Homem enquanto, também ele, ser homeotérmico, sempre buscou uma habitação com características endotérmicas, isto é que mantivesse uma temperatura “corporal” relativamente constante. Na história da arquitectura há inúmeros exemplos de residências, complexos conventuais ou militares e outras estruturas e espaços construídos enterrados ou parcialmente enterrados. São bem conhecidas as habitações enterradas na Turquia, na China e na Tunísia; ou o caso do “serdab” no Iraque e no antigo Egipto. Também em Portugal existem inúmeras estruturas enterradas; refiram-se apenas como exemplo, o Forte de Sacavém, o Convento da Saudação em Montemor-o-Novo ou as casas de Fresco do Antigo Paço dos Sanches Baena ou do dos Machados em Vila Viçosa. Nestas estruturas construídas enterradas as temperaturas constantes, sem amplitudes térmicas consideráveis, são um dado adquirido, sendo que no Verão a temperatura do solo a diferentes profundidades é sempre mais fria que a temperatura do ar, verificando-se o inverso no Outono e no Inverno. Tendo presente a toca do urso, optámos por enterrar parcialmente a casa de molde a garantir a inércia térmica. 2 – O Formigueiro das térmitas Algumas térmitas (Termitidae) constroem gigantes montículos de terra nos quais criam uma fonte primária de alimentação: um fungo que necessita ser mantido a uma temperatura exacta (30,5º), enquanto no exterior as temperaturas sofrem grandes variações (de 40º a 1,6º). Esta temperatura constante é obtida por um sistema de correntes de convecção cuidadosamente ajustado, através da constante abertura e fecho pelas térmitas de uma série de túneis de aquecimento e arrefecimento que percorrem o interior do montículo. Seguindo o exemplo da ventilação feita pelas térmitas através do complexo conjunto de chaminés e túneis do seu habitat, a casa possui vários tubos que assumem simultaneamente funções de ventilação e de drenagem de águas. 3 – Plurifuncionalidade e Flexibilidade Como referimos, na idealização deste projecto empenhamo-nos em frisar não só a sua multifuncionalidade - concebendo a casa, para além das tradicionais funções de refúgio e morada, também enquanto parque infantil, enquanto parque de jogos, enquanto espaço polidesportivo, etc. -, mas também e sobretudo, a sublinhar a rentabilização dos diversos espaços, estruturas, elementos, a serem utilizados, mais ou menos indistintamente, para outras finalidades. Assim, por exemplo, os tubos de ventilação e drenagem de águas servem igualmente como eixos de comunicação entre os diferentes pisos. Por outro lado a casa deve ir ao encontro de uma realidade e de um quotidiano cada vez mais flexíveis e mutáveis: separações e reuniões, parentes e amigos que partem, outros que regressam, adoecem, mudam de profissão. A flexibilização dos espaços e estruturas constitui-se igualmente como factor prioritário no projecto. Através de paredes embutidas com porta de homem e de armários pivotantes, propomos 3 quartos que se podem transformar em 4; uma biblioteca pode ser alargada ou desaparecer e transmutar-se num quarto grande; no quarto de casal a cama é suspensa através de carris no tecto, semelhantes aos das gruas de pequeno porte, que permitem desloca-la em vários sentidos.
4 – A casa lúdica e sem empregada Uma casa é um espaço onde nos queremos sentir confortáveis e onde as crianças (e adultos) possam brincar em segurança e liberdade. Mas a fruição plena da casa não pode e não deve ser condicionada pelas questões que se prendem com o seu asseio e conservação. Entender a casa enquanto espaço lúdico no qual as tarefas de limpeza e manutenção, possam ser amplamente facilitadas e reduzidas ao mínimo, constituiu um dos pressupostos base do projecto; e ainda que pecando por algum empirismo, estamos em crer que as propostas aqui apresentadas podem, após devidamente testadas, servir futuramente a todos os que desejem uma casa que não dê preocupações, mas simplesmente bem-estar e prazer. Assim à utilização dos tubos de ventilação, como tubos de drenagem e como eixos de comunicação entre pisos, soma-se uma ulterior funcionalidade, a lúdica, uma vez que os tubos são concebidos como escorregas a serem usufruídos tanto por crianças como por adultos. Andar de escorrega na idade adulta quanto a nós é apenas uma questão cultural. Do mesmo modo, algumas rampas que vencem pisos são colocadas junto à parede sendo curvas nessa zona; nas bases terão uma elevação contrária à descida de modo a contrariar o desnível (no caso de se deixar descair um carrinho de bebé ou um carrinho de compras) mas permitem igualmente servir de rampa para a prática de desportos radicais como o skate ou a Bmx. Um exemplo de coexistência harmoniosa entre gerações: avós e netos só têm que aprender a conviver! Para facilitar a manutenção e limpeza da habitação, não nos limitamos a optar por armários e loiças sanitárias embutidos nas paredes. Eliminamos ângulos ao nível do pavimento (pelo menos em faces opostas - encontro das paredes com o pavimento) e colocamos por baixo dos móveis linhas de água de pressão considerável que empurram o lixo até uma grelha, localizada a meio do compartimento, munida com uma bomba de sucção; linhas de ar comprimido a todo o comprimento dos móveis e junto das paredes servem a secar os pavimentos depois da lavagem e simultaneamente a limpar do pó. PROGRAMA DESCRIÇÃO DOS ESPAÇOS O espaço cumpre sempre as áreas estabelecidas no programa do concurso, mas optamos por criar espaços com pé direito duplo de modo que o ar circule por “convecção” natural. Neste duplo pé direito o piso superior comunica com o inferior através de um túnel-escorrega (para adultos e crianças) e de um pilar escorrega como os tubos de descida nos quartéis dos bombeiros. A parte social da casa, concebida em forma de iglo, é totalmente enterrada, a uma profundidade entre 5m – 12m. Na sala, uma grande zona de estar mais enterrada (almofadada) tendo no centro um “recuperador de calor” e chaminé a subir no meio da sala com pé direito duplo. Os quartos são semi-enterrados, ficando a zona de duches enterrada a 5m. Toda a zona enterrada é coberta por uma lage que funciona como elemento de impermeabilização do solo, canalizando simultaneamente as águas pluviais para depósitos. Piviligiam-se as coberturas verdes, relva, hera, arbustos. A pala, talvez em estilo “brutalista”, fica aberta, permitindo a coacção do sol respeitando a sua inclinação. Nalgumas áreas não se recorre a telas ou isolamentos térmicos: a primeira lage superior da zona de estacionamento recolhe as águas das chuvas; alguns metros mais abaixo, em toda a periferia da zona enterrada e até uma profundidade muito acentuada, será feita a drenagem das águas das chuvas e dos diferentes níveis freáticos, o que permite ter uma terra não húmida. Aquecimento Dada a incorporação da habitação na terra, a grande massa das paredes permite um elevado quociente de inércia térmica.O aquecimento do sol coado através de palas respeitando as inclinações dos diferentes solstícios a par das pérgulas com trepadeiras e a colocação de árvores de folha caduca diante dos vãos a sul permitem um aquecimento natural. As paredes trombe bem calculadas e o cuidado no detalhamento e execução de vãos e caixilharias contribuem para a estabilidade da temperatura, que sofre variações térmicas insignificantes. A moradia é servida por um elevador movido a energia fotovoltaica, coadjuvado por uma escada toda escavada no terreno, tipo túnel de mineiro, que arranca da zona mais enterrada da casa e que, de um modo periférico, serve de escape - saída de emergência dos diferentes pisos, assumindo igualmente a função de chaminé de ventilação e de túnel para drenagem das aguas que se introduzam no terreno por capilaridade, uma vez que entre a escada e a periferia oposta à moradia serão colocados vários tipos de cascalho e drenos. Existe igualmente uma rampa de acesso exterior, semi-coberta. Os tubos de ventilação são colocados a uma distância de cerca de 5m na zona sul da casa: estes tubos, com a altura aproximada 1,70m, são enterrados até 4m de profundidade e entram na zona enterrada dos quartos, a norte. Um outro tubo (ou o mesmo) segue para uma chaminé (7m de altura) colocada na parte superior da encosta. Corredores muito amplos servem de espaços multi-usos: trabalho domiciliário, ginásio, lazer (rede de pendurar para descansar), brincar (jogar à bola sem receio de partir vidros porque são duplos e espessos); a ligação em curva da parede e do pavimento pode servir como rampas de skate ou patins. Propomos vários tipos de ângulos e que a monomassa do pavimento suba até a altura de 1m acima da curva nos locais onde não há móveis. As rampas que vencem os pisos na sala de estar estão também junto à parede e desenvolvem-se na linha do diâmetro da cúpula; para alem da inclinação um pouco mais acentuada que o definido na legislação, serão também curvas na zona da parede; as bases das rampas terão uma elevação contrária à descida de modo a contrariar o desnível. Nos tubos de ventilação que da chaminé passam pela zona de garagem e vão directos à sala, à cozinha e até aos quartos propomos uma porta, tipo alçapão do lixo por sucção, estes tubos permitem ser utilizados como escorregas, visto a inclinação ser muito suave não ligarem directamente com o tubo que faz a ventilação, localizado 4m mais abaixo do que a zona dos quartos. Sublinhamos que assim que um corpo humano ou animal entra no tubo (porque se constitui como uma onda de calor), se acende uma linha de luzes leds que se apaga automaticamente após a descida desse corpo. Em toda a casa só existem portas de correr; nalguns pontos, para compartimentar o espaço, optou-se por paredes “pivotantes” ou de recolha à parede. Numa concepção que pressupõe a total integração do mobiliário na arquitectura, os móveis são em madeira, embutidos e encastrados nas paredes sem tocar nos pavimentos, criando-se as paredes e o pavimento uma superfície côncava. O pavimento será uma monomassa lisa sem textura nem alhetas até aos móveis; por baixo destes existe uma linha de água (com ligação individualizada em cada compartimento) de elevada pressão que empurra o lixo até uma grelha colocada no meio da sala e munida uma bomba de sucção. Paralelamente, por baixo dos móveis, em todo o seu comprimento, e junto da parede, até uma altura de aproximadamente 20cm, existe uma linha de ar comprimido, que sairá a grande pressão, assumindo uma dupla função: secagem a pós a lavagem do pavimento e limpeza do pó. A grelha do pavimento (da mesma cor deste), para além da bomba de sucção da água, está equipada também com um potente aspirador, encastrado longitudinalmente por baixo desta. Este processo poderá ser usado em todas as compartimentações da casa com excepção das instalações sanitárias: aqui basta que o ralo de escoamento de águas, colocado no centro do pavimento, tenha a função de sucção de águas. Abastecimento de água Em Portugal chove em média 50 dias por ano e aproximadamente 600 litros por metros cubico. As famílias portuguesas gastam em media 15metros cubicos de água por mês. Fiéis ao princípio de rentabilizar ao máximo os recursos naturais existentes, privilegiamos o aproveitamento das águas pluviais cuja utilização apresenta inúmeras vantagens: a poupança e a autonomia quando ocorram falhas na rede pública; impede a incrustação de calcário nos equipamentos (esquentador, máquinas de lavar roupa e loiça); no banho é aconselhável para a pele e deixa o cabelo mais suave e macio. O projecto propõe o aproveitamento da água das chuvas através de dois tipos de cobertura e para dois depósitos distintos. O primeiro, colocado na cobertura da garagem; esta será toda coberta por painéis fotovoltaicos e terá uma superfície de 50m2; o depósito, com capacidade para1500 litros, é em plástico preto e localiza-se numa concavidade da encosta virada a sul, toda ela forrada de espelhos de modo a ampliar os efeitos dos raios solares; esta concavidade terá um alçapão electricamente isolante que encerra automaticamente assim que a intensidade solar diminui. O segundo depósito, com uma capacidade de 2000 litros, faz-se ao nível da grande lage de soleira superior ao nivel da garagem; as águas recolhidas destinam-se à rega automática do jardim bem como às lavagens de pavimentos, viaturas e outras. A recolha das águas é feita através de pendente passando primeiro por um crivo para separar os objectos estranhos (folhas e outros detritos). Depois o depósito que no primeiro caso (duches, banhos de imersão e lavagens de roupa e loiça) o próprio depósito que já existe no mercado funciona como “decantador” natural para as impurezas em suspensão e traz uma banda hidro pneumática para chegar aos depósitos secundários (caso dos depósitos dos duches dos quartos) ou ao utilizador (caso das torneiras da cozinha); ao abrir a torneira é seleccionado automaticamente o depósito com a temperatura mais próxima da escolhida por o utilizador. De salientar que ambos os depósitos serão ligados à rede de águas externas através de um sistema de boiador eléctrico de modo a garantir reservas permanentes. MATERIAIS EMPREGUES O vidro, painéis fotovoltaicos, a pedra da região agrafada e o betão e as telas ou pinturas impermeabilizantes nas coberturas ajardinadas. Os muros de sustentação de terras são em aparelho ciclópico, em pedra da região, tendo como elemento consolidador a Junça (Cyperus rotundus), à semelhança de quanto utilizado nos antigos açudes de estações de moagem. A Hera (Hedera helix), cobrindo pérgulas e muros de pedra aparelhada, serve simultaneamente como elemento decorativo e como elemento de sombreamento. De salientar que entre os painéis fotovoltaicos ou o vidro “agrafado” e as vistas haverá sempre arbustos que não seguem nem perturbem a visão. Os reflexos provenientes destes painéis, dado estes estarem expostos a sul e em zonas ou superiores ou muito baixas, são encobertos pelos muros de suporte em pedra ou por manto verde os seus, não causando qualquer perturbação










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