Patino, logo penso
PATINO, LOGO PENSO
Patinava com os pensamentos enquanto alimentava o desejo de chegar ao computador e entrar no mundo digital. Agora temos uma dúvida e carregamos numa tecla e entramos na maior biblioteca de sempre, a World Wide Web.
Andamos a perder a magia do tempo necessário para descobrir e analisar as incógnitas, dúvidas ou segredos!
Um dia destes saio da frente do computador e passo uma tarde na Biblioteca Nacional, tranquilamente, como quem ainda está a meio de uma tese de doutoramento! :)
"Mas onde vives, caro amigo?", digo de mim para mim já em voz alta, enquanto olho um dos raros sinais vermelhos que confronto e espero! E surpreendo o puto arrogantemente engravatado que passa apressado na passadeira !
E de repente, na distracção, as minhas recordações dispersam.
É sempre por estes caminhos que muitas vezes me interrogo sobre se a velocidade com que desbravamos a cultura ou as distâncias entre espaços não nos estará a tornar seres mais cultos, certamente, mas também mais ansiosos e extremamente ávidos de tudo, inclusive do tempo?
O meu meio de deslocação é lento mas percebo perfeitamente que a velocidade é uma exigência quase espiritual para onde a tecnologia nos vai empurrando.Desejamos possuir o tempo todo do mundo desfrutando da maior quantidade possível de espaços!
Mas depois ficamos sem tempo. E até já somos clientes de bancos do tempo! E os espaços tornam-se incompreensíveis ou apenas abstracções!
Se não fazemos retiros de contemplação ou ioga, vamos para ginásios, inventamos emoções ou criamos actos que, por se realizarem em exagero, quase me atrevo a apelidar de mesquinhos mas que nos tornam quase épicos e nos identificam com magnânimos heróis! Estou a referir-me à grande proliferação dos jogos electrónicos!
Talvez já há uns anos esteja à procura da simbiose que os tempos de expressão diferentes necessitam. O tempo da expressão do corpo e o tempo da contemplação dos agentes interiores!
Quais as exigências mais significativas na complexidade do eu?
Tenho resumido as minhas deslocações a uma interminável peregrinação. É nessa distância lenta que procuro a associação do corpo com o espírito.
Outros dizem que é a dialética do corpo com a alma mas eu, com as rodas no asfalto, prefiro dizer que em todos os quilómetros que faço o que procuro é a satisfação saída de dentro para fora pelos rascunhos expressivos de todos os órgãos corporais que, para me deslocar, têm que agir comigo e em função da minha pessoa.
Há como que um libertação de todas as entropias, uma expurgação da desordem.
Ou seja tento manter o corpo como uma máquina da mobilidade mas sempre associado a uma impertinente estrutura mental.
E ao patinar, volto a olhar a cidade e a deixar o pensamento para trás.
Eliseu
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