A Chuva traz-nos gotas, espessas ou finas, que só são quentes abaixo do equador, mas que, mesmo frias por estarmos do lado de cá e também por se misturarem com o vento produzido pela velocidade da deslocação, nos premeiam o rosto com a gentileza de um sabor talvez muito próximo ao que McNamara sente quando desliza na onda da Nazaré. (outro sorrisinho!)
Ou seja, é um bem-estar forte e grande se não nos fecharmos nas grilhetas que um desmedido preconceito criou, no que podemos definir como um desejo de conforto pelos opostos, em que estando frio queremos quente e vice-versa, mas que nos conduz a uma letargia decepada de emoções e nos afasta da harmonia com os elementos verdadeiros da natureza, que tenho para mim que sendo pura, é revigorante!
Quando descobri o conforto dos equipamentos que nos protegem dos extremos, tornei-me ainda mais explorador e sensível à Mãe Natureza!
Diga-me porque ficou famosa no cinema a cena da dança na chuva no filme "Singin´ in the Rain"?
Já fiz com agrado várias vindimas no Sul de França, em que na maioria dos dias com "galochas" e impermeável até aos joelhos se cortavam uvas debaixo de chuva constante!
Nos dias de chuva, sobretudo os de Inverno, ou te chamam doido ou te admiram. E aí tens um prémio, um desafio, e o prazer de uma embrionária revolução de mentalidades!
O que seria do surf e do snowboard se não tentássemos compreender tudo o que a natureza teima em nos oferecer? A satisfação também provem da superação de barreiras e dificuldades.
A humidade e o frio podem ser muito facilmente suportados, não na exigência imediata por uma outra situação oposta, mas com a imaginação.
Ou dito de um modo simples… Está molhado… Chega-se ao destino e seca-se ou muda-se de roupa. Planeamos isso previamente. Esta-se a arfar de calor... Igual atitude.
Porque será que os miúdos gostam de pisar as poças?
Com a água que nos cai do Céu desde cedo cumpri uma boa relação de amizade que me enaltece!
Se o amigo que me lê faz BTT, sabe o que é andar com muita lama e passar rios com os braços no ar e ela (a BICLA, entenda-se) lá em cima, quando a água nos dá pelo pescoço.
Na cidade é tudo mais suave...
Há o respingar das gotas de água saídas após uma roda gorda pisar os baixios do asfalto onde se concentra a agua, que nos acariciam o corpo e até o rosto...
Sair com uma amiga que nos guarda da lama. É BOM.
Mas se tal não acontecer, vamos com certeza sentir as rodas finas rasgar a larga superfície liquida e espelhada que as caixas de drenagem entupidas das águas pluviais tratam de nos oferecer... E isso dá-nos um prazer ecuménico e infantil.
Estes lagos urbanos não são tão profundos quanto os da montanha mas produzem um efeito lúdico idêntico.
E Lisboa nesses dias dá-nos mais cheiros.
Reparei há muito que a chuva nas outras cidades é diferente, tal como os cheiros!
Lisboa tem cheiros e chuvas únicas!
Apesar de nunca nada ser igual na certeza do mesmo percurso, quando nesses dias nos decidimos por uma atitude de viagem, torna-se perigoso!
É ou não verdade que a maior parte dos dias gostamos de nos movimentar por percursos de vida onde a morfologia da semelhança nos cria segurança?
Mas depois há os sonhos de viagem!
Seremos o resultado dualista da certeza e incerteza, aventura e comodidade, vadiagem e sedentarismo?
E como não há crónica sem conselho, a todos incluindo a mim, permitam-me ainda rabiscar o que dizem os eruditos e a razoabilidade aconselha.
Que numa rua, via ou estrada com chuva, onde como sabem existem muitas ratoeiras que a nebulosidade da água cria e esconde, não é conveniente ir por caminhos incertos e desconhecidos e é aconselhável seguir os percursos onde as semelhanças e o conhecimento adquirido criam consensos e fidelidades. …Os caminhos amigos.
Necessitamos urgente de Poetas que dignifiquem os dias de chuva!
Não sou poeta mas tentei aliciar-vos para pedalarmos em dias cheios de encantamento e de muita água por todos os lados!
Não há melhores dias do que aqueles em que já nos equipamos na firme convicção de que vamos mergulhar num mar de aventuras.
Nesses dias escolhemos (ou devíamos escolher) o que melhor se adequa a situações mais improváveis e bem diferentes daquelas a que nos atiramos nos restantes dias (nos dias sem chuva)._ Meias, luvas e sapatos impermeáveis e respiráveis! Esses materiais em gorotex fazem da Chuva uma amiga , um elemento da natureza muito bem vindo....E que contraria um outtro _ o Fogo !
BOAS PEDALADAS à chuva... Sobretudo de gabardina!:)
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