Sim, sonho com uma Pistas de Gelo


"Opinião do jogador 33 de Hoquei no gelo e em Linha, àcerca de um sonho muito antigo"

Como começou a loucura?

Porque desejamos um recinto para desporto no gelo num país de sol, praia e mar? Simples. Permitam-me que conte a história.

Dava aulas na faculdade de Arquitectura, estaríamos em 1995 e chegava ou de bicicleta ou de patins para leccionar a cadeira de Desenho Urbano a jovens caloiros do primeiro e segundo anos. Estávamos então a três anos da Expo 98 e o país começava a viver uma euforia que atingiria o seu auge na exposição mundial.

Todos os profes tinham bons automóveis e os alunos levavam o seu carro ou o dos pais por necessidade… mas também por vaidade.  A Faculdade de Arquitectura  tinha-se mudado do Chiado para a Ajuda, um local longe de tudo, de facto, um local onde alguns anos antes via Álvaro Cunhal a provar tintos e petiscos em amena cavaqueiras nos diversos barracos da festa do Avante.



Ia a pedalar para a Ajuda desde as Mercês ou de outros locais mais perto, como da Mouraria ou de onde quer que tivesse terminado a noite anterior J. Pedalava uma hora ou trinta minutos, sempre parando para um café.

E apesar de ao chegar me lavar nos lavabos "à gato", vestia uns fatos Boss que mantinha nos grandes cacifos para professores. Mas nem assim me livrava da fama de louco mal-cheiroso :) Espero que no futuro se comece a pensar em balneários para funcionários em todos os locais de trabalho para permitir uma mobilidade que pode exigir algum suor. Por mais que os meios eléctricos aliviem parte do esforço.

Quando numa aula de rua cheguei de patins, logo um aluno de Gestão Urbanística do 1º ano me convidou para jogar numa equipa de hóquei em linha cujo principal propósito era a integração social dos jovens jogadores que viviam num bairro problemático. Bem problemático, percebi mais tarde. Integrei então uma equipa da Buraca e treinávamos bem perto do Bairro da Cova da Moura.

Rapidamente ganhei o gosto pelo jogo, a competitividade e o espírito de equipa.

Claro que de hóquei não percebia nada e até achava interessante a situação a que me sujeitei: Numa instituição superior ensinava e classificava e numa outra parte precária da cidade, num recinto cheio de mazelas, era instruído em novas artes - e por vezes penalizado - por quem gostava de ser meu aluno!

O Pedro Faria tinha apanhado o vírus da patinagem no gelo quando tinha 17 anos numa estadia de Erasmus na Finlândia e criou a equipa e a escolinha  de hóquei em linha da Buraca. Manteve-a quase 10 anos.

Este meu aluno, hoje arquitecto e ainda amante do desenho que diz ter sido eu a incutir-lhe, ofereceu-me três anos depois (1997) uns patins com lâminas que ainda hoje uso nas pistas de gelo para onde vou.


Comecei então a procurar onde as podia usar. Descobri Viseu. No antigo Palácio de Gelo, entretanto demolido, fui encontrar todos os atletas entusiastas por uma modalidade que ainda hoje poucos sabem que existe.

Muito jogadores tinham nascido ou passado a infância  no Canadá ou nos Estados Unidos.

Em Viseu fizemos torneios e campeonatos e criámos laços de amizade e cumplicidade.

Vinte anos depois ainda nos encontramos em torneios e  recintos onde se joga em linha ou no gelo, só que agora também com filhos e até netos.

Está visto que me apaixonei por jogar e patinar no gelo. E à medida que envelheço determinei para mim que quero, em sintonia com uma vasta equipa, deixar um legado a futuras gerações: O prazer de patinar e jogar em recintos de gelo. E para isso é necessário que Lisboa tenha uma pista de gelo natural e permanente com dimensões que permitam a prática de desportos olímpicos.

É essa a minha loucura. Será?

Há cerca de 5 anos (?), desafiei os amigos patinadores, que estavam sempre nas pistas provisórias que aparecem por todo o lado na época de Natal, a juntarmo-nos para fazer uma reivindicação pública por uma pista em Portugal, usando camisolas para esse fim e distribuindo flyers pelo público que explicassem o nosso desejo. Foi criado um logotipo e uma conta de facebook com esse fim_ PISTA DE GELO PARA PORTUGAL .


Pensávamos que, pelo facto de enchermos as pistas vestidos com essas camisolas e que quem as usasse patinasse com vigor e destreza, nos faríamos notar. Começámos a contactar a imprensa usando os contactos de alguns amigos jornalistas e escritores. Devo destacar aqui o Tiago Carrasco. Que paciência que teve para comigo! Nunca recusou ajudar e tentou tudo por todas as portas.

A figura pública que tanto desejávamos que nos apoiasse, vai para mais de 20 anos, nunca apareceu. Descobrimos por experiência própria que as “vedetas" tínhamos que ser nós...


A UNIÃO FAZ A FORÇA - Uma boa imagem metafórica são os cabos que suspendem o tabuleiro da Ponte Sobre o Tejo – qualquer um corta um cabo mas juntos têm uma resistência arrebatadora. Assim, se continuarmos juntos e unidos a remar no mesmo sentido e pelo mesmo fim - Que Lisboa tenha uma Pista de Gelo Natural e Permanente de dimensões Olimpicas – havemos de lá chegar.


Esta é a história antiga e foi escrito há uns anos. Mas há novos capítulos. Apoiemos agora as recentes iniciativas e energia de Cristina Lopes e do actual Treinador Profissional da Equipa Nacional de Hóquei no Gelo - Linces Lusos e da Selecção Nacional, Jim Aldred, que são os actuais  timoneiros desta pesada barca e herança. Que contam agora com um aliado de peso: Pedro Farromba, presidente da Federação de Desportos de Inverno, que, estou certo, conseguirá finalmente transformar o nosso sonho em realidade.

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