Habitação que cresce conforme as necessidades



 O tempo, a economia e a evolução dos espaços


A habitação evolutiva é uma modalidade da arquitectura em que os projectos são planeados e organizados para uma execução por  fases.
A sua potencialidade economica e  social reside exactamente nisso – poder ser executado no tempo. 
O projecto requer a atenção especial de factores como: polivalência, elasticidade dos espaços e a consideração das componentes construtivas, o que aliás são características de qualquer habitação com qualidade.

O modelo do fogo, porque melhor adequado às necessidades e à dimensão dos agregados, é a resposta à expectativa dos casais jovens (essa habitação evoluirá com a família) e das famílias com capacidade de envolvimento no processo de construção, incorporando mão-de-obra e poupanças. 
O processo evolutivo é um meio possível, se desejado e participado. É um processo de abordagem à arquitectura e construção já muito usada sobretudo na América Latina e que em Portugal foi experimentado em vários pontos do território no pós-25 de Abril de 1974.

Para além do desenvolvimento de soluções alternativas no papel, versáteis, flexíveis, de modo a atender a um programa de compatibilização dos recursos económicos das famílias com menor capacidade de solvência, poderá o próprio processo, progressivamente, solicitar a entre-ajuda e a contribuição experimentada de cada um para um todo colectivo.

 Será então, assim, uma outra maneira de, intervindo directamente, ver e encarar o “processo criativo” e de criação de espaços domésticos para todos feito por todos.

VANTAGENS E OPÇÕES:

  • Possibilidade de um maior número de pessoas poder adquirir habitação, evitando-se os circuitos comerciais tradicionais.
  • Canalização de recursos, de acordo com o aumento das necessidades (faseamento no tempo).
  • Possibilidade de radicação familiar mais prolongada, implicando benefícios sociais e psicológicos, evitando-se encargos de vária ordem como consequência da mudança de área da residência com os respectivos cortes vivenciais já estabelecidos.
  • Possibilidade de crescimento com baixos custos (investimento inicial baixo), permitindo tipologias com agrupamentos de alta densidade e baixo volume.
  • A relação entre projecto e utente/construtor pode ser apenas a da “mensagem” transmitida pelo núcleo inicial, cabendo-lhe à medida das suas possibilidades os pedidos de licença à Câmara, com base nas opções de projecto previsíveis, ou em eventuais aditamentos – ou pode ser um diálogo cultural muito mais rico de assistência caso a caso entre técnicos, provavelmente locais, e utentes, cujos resultados são por agora imprevisíveis.
  • Este tipo de construção poderá ter derivado de invenções de processos muito diversificados (incluindo clandestinos) em que a auto-construção é dominante, o que já dá uma forte probabilidade de acertar com as vontades dos destinatários, se o projecto inicial se reduz aos elementos mínimos, permitindo aos interessados fazer escolhas quer de gosto, quer de necessidade, com poucos constrangimentos impostos pelo núcleo inicial.
  • A necessidade de grande diálogo entre projectista e população, possibilitando a discussão não só a nível construtivo, mas também de inserção no lugar e possibilitando também a previsão de hipóteses alternativas, salvaguardando as questões de conforto e de qualidade ambiental.
  • A auto-construção tem grande interesse na medida em que permite ao próprio utente gerir um processo em que pode intervir com as próprias mãos, adquirir materiais e contratar sub-empreitadas.
  • Na auto-construção grande parte do seu sucesso depende da capacidade de associação dos utentes por forma a que possam tirar partido de créditos financeiros, organização dos estaleiros, partilha de equipamentos e processos técnicos em verdadeiro sentido comunitário.
  • A existência de uma comunidade solidamente estruturada, segundo padrões culturais idênticos permitirá atingir, com êxito, os objectivos do programa (sendo este o seu verdadeiro limite).
LIMITES:
  • Criação de situações mais ou menos incontroláveis, relacionadas com a falta de qualidade da construção por fases, quando executada pelos próprios.
  •  É no entanto limitada pela gestão articulada dos modos de financiamento e da capacidade de intervenção nos processos construtivos, pelo modelo do agregado familiar destinatário e pelo controlo  da configuração arquitetónica.
  • Falta de disponibilidade de terrenos urbanos a custos compatíveis com as capacidades dos futuros utentes.
  • Dificuldade de integração urbana da zona destinada a conjuntos de habitação evolutiva, por forma a evitar a formação de “ghetos”.

PAPEL DO PROJECTISTA

Ao projectista cabe entender esta oportunidade de trabalhar directamente com o indivíduo ou o grupo e defender os seus objectivos, usando as suas capacidades na resolução dos vários problemas que podem surgir:

-          Diálogo com as entidades (oficiais)
-          Estratégia para o conjunto
-          Economia de meios
-          Resolução das necessidades individuais e colectivas
-          Qualidade do espaço da habitação
-          Racionalização das componentes
-          Desafio ao mercado construtivo existente

CONSTRUÇÃO

Para o construtor, além do desenho, o projecto terá de ser “um manual de instruções” de fácil leitura, determinante de uma boa gestão construtiva e financeira. Para o utente, embora definidor de um modelo arquitectónico, o projecto terá de permitir uma intervenção que materialize “a casa do desejo”, expressão sócio-cultural do agregado familiar.

Na habitação evolutiva terá que haver a possibilidade dos utentes terem uma antevisão do custo das casas e do montante dos investimentos em cada fase, permitindo-lhes saber que determinada solução implica determinadas despesas, como por exemplo colocar estores ou portadas; pisos radiantes ou páineis solares  e assim para todos os componentes da construção.

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