PISTA DE GELO SUSTENTAVEL

Uma pista de gelo ao lado de uma piscina projectada pelo arquitecto Anton Kharchenko


Memória Descritiva 

 A prática de desportos de inverno, apesar de negligenciada em Portugal, é do interesse não só dos atletas já praticantes, mas também do público em geral. Uma pista de gelo natural e permanente é uma atração generalizada que ao contrário das outras atividades desportivas indoor fornece uma estrutura sólida e eficaz para o usufruto da sociedade para além da esfera competitiva. Este modelo programático de abertura para o utilizador comum como equipamento de lazer verificou-se de sucesso em inúmeros exemplos mesmo em territórios sem tradição de gelo como Espanha, França e até Singapura ou Arábia Saudita.

 A flexibilidade da pista de dimensões oficiais (de acordo com as normas da Federação Internacional de Hóquei no Gelo) permite não só a prática de hóquei como tal, mas também de patinagem artística no gelo, patinagem de velocidade em formato short trek e Curling, para além de patinagem livre como atividade de lazer coletiva e espetáculos no gelo.

Na transição entre épocas de funcionamento, geralmente no verão, a retirada e posterior renovação da superfície de gelo permite a utilização do equipamento para outro tipo de atividades, tornando a estrutura do pavilhão capaz de receber concertos, conferências, grandes exposições ou competições desportivas de outra natureza.




 Pavilhão desportivo de gelo e água

O pavilhão desportivo destina-se à prática de desportos indoor no gelo e natação em piscina curta.
 O corpo do novo edifício proposto resulta de uma abordagem racional inerente à arquitectura industrial onde o conteúdo dita forma ao contentor. Conceptualmente todo o edifício é entendido como um armazém funcional, cujo interior é ocupado por um «sistema de produção de cultura e lazer».

 Assim a morfologia do volume é condicionada pelo programa contido no seu interior, onde as diferenças de volumetria e de pé-direito criam dinâmica no exterior. De forma a aligeirar o impacto altimétrico do corpo principal do edifício, propõe-se o seu desenvolvimento em altura a partir da cota -4.00 em relação ao piso da rua.

 Desta forma, para além da manipulação da sua relação com o restante conjunto edificado, estabelece-se uma comunicação mais ampla entre as atividades no seu interior e o espaço público exterior. Envidraçado periférico permite a permeabilidade visual do edifício à cota da rua, transformando o exterior numa bancada informal. Entre o pavilhão e o silo a norte nascem dois volumes verticais de acesso ao edifício, cujo papel secundário é de ventilação e acondicionamento geral do ambiente interior do corpo principal tendo em conta o seu programa.

Este espaço é entendido como mais uma das entradas para o conjunto a partir da Avenida Infante D. Henrique e garante a transição entre os diferentes elementos.
No volume do pavilhão proposto o programa desenvolve-se em dois momentos em comunicação, porém de forma independente para diferentes práticas desportivas.
 Assim, o primeiro volume de comunicação vertical cria acesso ao corpo funcional dedicado à piscina no piso -1.
 O segundo volume de comunicação vertical cria acesso diferenciado para os atletas pelo piso -1 e para os espectadores pelo piso 1. A cota +4.00 entre o segundo volume de acesso e o corpo do pavilhão estende-se uma passagem aérea que comunica com o átrio de recepção, bar e posteriormente com as bancadas.

 Pretende-se com este pensamento distributivo recriar no edifício novo a lógica de movimentos dos antigos armazéns cuja ocupação procedia-se através do transportador aéreo e,  em oposição, como nos silos verticais, onde a carga era efectuada pelo piso -1.
A estratégia de proximidade entre uma pista de gelo e uma piscina resulta da vontade de minimização e racionalização de gastos energéticos característica deste tipo de programa, através de princípios básicos de termodinâmica onde o conceito de trocas diretas entre um volume aquecido (piscina) e um arrefecido (pista de gelo) é fio condutor.
 Os volumes de distribuição vertical desempenham a função de renovação de ar, onde um pátio arborizado entre os dois a cota -4.00 é utilizado para introdução de ar fresco, enquanto  o ar processado é extraído nas extremidades das «chaminés».

Quanto ao funcionamento altimétrico geral o pavilhão desenvolve-se em três pisos, onde a lógica de ocupação base corresponde à utilização directa dos equipamentos desportivos no piso -1, serviços públicos e administrativos no piso 0 e acesso geral ao público no piso 1.
A materialização base do edifício proposto resulta da combinação entre uma estrutura espacial de aço para o volume da cobertura de forma a vencer o vão livre necessário; e betão armado na compartimentação horizontal. No exterior, enquanto o volume superior «translúcido» referente à estrutura espacial da cobertura reveste-se de paineis de vidro fosco em «U» em sobreposição, o piso térreo é dominado pelo pano envidraçado transparente. A transparência e continuidade do envidraçado, e a fragmentação e translucidez dos paines de vidro recriam a dinâmica da oposição entre a água e o gelo resultante do programa proposto.
No interior, procura-se a introdução de aço pintado a preto e madeira, de forma a evocar o carácter industrial.
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Um trabalho do arquitecto Anton Kharchenko que agradeço pela gentil partilha 


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